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A SINDEMIA GLOBAL DA OBESIDADE, DESNUTRIÇÃO E MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Amplamente discutidos, desnutrição e obesidade estão entre os assuntos mais retomados nos debates e práticas em nutrição. Contudo, a interação entre eles, somada ao impacto nas mudanças climáticas, ganha um nome pouco popular: Sindemia Global. Esta integra uma concepção ampliada dos problemas pontuados e se insere em um contexto que transcende as consequências diretas da alimentação para os indivíduos e populações. Dessa forma, uma extensa gama de envolvidos nesse constructo crônico é convocada, exigindo um olhar atento para os sistemas alimentares, que massivamente se têm sustentado, trazendo repercussões negativas. Assim, a intersetorialidade se mostra promissora para atuações mais conscientes e visionárias, no que tange escolhas e práticas alimentares mais saudáveis e justas.

Nesse aspecto, o Brasil representa um exemplo de incoerência, uma vez que apesar de ser o 5° maior produtor de alimentos do mundo, ainda é lar de milhões de brasileiros que passam fome. Em adição, consegue assegurar simultaneamente o alastramento da obesidade em robustas proporções. Vale ressaltar o papel da agropecuária para movimentar a economia no país, sendo a mesma responsável pela maior forma de emissão de gases de efeito estufa, que têm suscitado danos imensuráveis e cumulativos para a população e o meio ambiente.

Diante do panorama, o relatório da Comissão The Lancet refere ser desafio unânime a superação desse cenário, caracterizado por sistemas alimentares insustentáveis, que revelam, em cada uma de suas etapas e abordagens, inconsistências na busca de melhores prognósticos para a questão da Sindemia. Além do ônus financeiro, que nem de longe simboliza o maior deles, a perda do potencial humano, desigualdades sociais e danos ambientais são alguns dos prejuízos destacados, impactantes especialmente para populações e países mais pobres.

Vale ressaltar que é destacada, como uma das justificativas para a dificuldade em transpor esse cenário para outro significativamente mais positivo, os interesses pessoais que se mesclam dentro da política, fazendo com que indústrias e grandes corporações representem um conflito de interesses real e frequente, praticamente palpável, e que barram a efetiva ação de políticas públicas voltadas à população e à promoção de Segurança Alimentar e Nutricional.

Dessa forma, para que se conquistem mudanças sistêmicas transformadoras na atual realidade, a integração de atores deve objetivar o enfrentamento dos fatores sociais, políticos, socioeconômicos e comerciais. O relatório sugere, para isso, alguns caminhos a serem seguidos. O primeiro deles é a criação de plataformas colaborativas para unir grupos de esforços atuantes, tarefa que pode ser feita por todos; enquanto para Nações e Municípios são exploradas as temáticas de redução da pobreza e iniquidades, proteção dos direitos humanos, redução da influência de grandes interesses comerciais nas políticas de saúde pública e disseminação de informações claras aos consumidores sobre os produtos alimentícios e seus impactos, a fim de orientá-los a escolhas mais sustentáveis.

Em adição, para a sociedade civil, são emblemáticas ações que envolvem o engajamento, para encorpar demandas por políticas de enfrentamento da Sindemia Global e o monitoramento das políticas implementadas; aos financiadores, é sugerido o uso do auxílio para enfrentamento da Sindemia Global, o desenvolvimento de um Fundo Alimentar e o financiamento de pesquisas sobre conhecimentos indígenas e tradicionais. Por último, as agências internacionais são incentivadas a estabelecer uma Convenção-Quadro sobre sistemas alimentares que comprometa países a criarem juntos, sistemas alimentares promotores de saúde, equidade, sustentabilidade ambiental e prosperidade econômica, bem como o monitoramento da implementação de políticas recomendadas pela ONU e outros órgãos competentes para enfrentar a Sindemia Global.